A Bela e o Dragão

Diogo Stone
4 min readAug 11, 2020

Era uma noite de festa. Afinal, não era todo dia que Benthos — deus menor e dragão-rei marinho — estava sentado à mesa. O vilarejo viveu momentos de terror protagonizados pelo anjo de fogo Uriel, que com o poder da magia Morte Estelar, matou o protegido de Benthos, invocando sua ira. Mas graças aos esforços dos aventureiros; nem o soldado renegado, nem o deus menor, haviam destruído a vila.

Uma dahllan de cabelos rosados trocava palavras carinhosas com o senhor dragão, que corado, tentava disfarçar sua timidez. Pegando em suas mãos, a jovem de sorriso radiante propõe:

— Benthos, eu queria te mostrar uma coisa lá fora, vem comigo — e partiu do salão levando-o pela mão.

— Oh lá, oh lá — Mu cutucava Zanshin, seu amigo de Tamu-Ra, enquanto indicava a direção por onde Prunna levava o dragão-rei. — Eles vão…

— Eu sei muito bem o que eles vão fazer Mu — comentou o Tamuraniano envergonhado.

— Isso eu preciso ver — uma mão firme segurou o pulso de Mu, sua amiga elfa o fulminava com o olhar. Com um muxoxo tornou a falar — Ah, Sedrywen, qual é?

— Não, Mu. Hoje não — afrouxando o aperto, o rapaz voltou a sentar-se.

— Ah, então vamos beber e dançar. Já está de bom tamanho também.

A elfa e o tamuraniano trocaram olhares aliviados. Por mais que não temessem a presença de Benthos, ele ainda era um deus. Isso bastava para deixá-los inquietos.

***

Por alguns minutos, Prunna e Benthos caminharam pelas ruelas do vilarejo. Em um ponto onde a luz era mais fraca e havia menos movimento, a jovem puxa o dragão-rei para perto de si e o beija. Foram necessários alguns segundos para que ele retribuísse com um abraço forte e lábios macios. Afastando um pouco seu rosto — de traços finos e recobertos por escamas esverdeadas — comenta com um sorriso de dentes afiados.

— Venha. Há algo que eu quero que você veja — tomando a mão de Prunna, cruzaram a ilha até uma orla inabitada.

O clima estava agradável e a noite sombria. Não havia lua no céu e a escuridão era desnorteante, mas o casal mantinha o passo firme. Entre o som das ondas, a jovem percebe que Benthos cantava uma música baixinho. Sua voz grave tornava a melodia agradável e acalentadora, contudo só conseguiu distinguir dois versos.

Tenho a flecha de Irione, a riqueza é ilusão

E só pode consolar-me, meu marujo alegre e bom

— É bonita — comentou.

— O quê? — o dragão-rei parou a caminhada na praia subitamente.

— A música. É bonita — o sorriso frouxo da garota prendia a tenção de Benthos.

— Ah, é. Essa canção é cantada por marujos de toda Arton. Reza a lenda que pai Oceano os ensinou. Não estou habituado a ter companhia, nem percebi que cantava em voz alta — riu.

Prunna se aproxima, pronta para toma-lo em seus braços novamente; mas ele se afasta e anuncia.

— Aqui vai servir. Contemple! — estendendo o braço, apresentava o mar calmo e escuro de uma noite de lua nova. — Acompanhe-me, por favor.

Com passos lentos, adentraram no mar. Aos poucos o braço estendido de Benthos envolveu-se com escamas verde e garras brotaram de seus dedos. Agitando-os levemente, as águas começaram a dançar conforme sua vontade. Logo, pequenos pontos luminosos surgiram. O que antes era uma praia deserta, agora estava tomada pelo brilho de pequenas criaturinhas que brilhavam conforme o mar as chacoalhava.

— Isso é maravilhoso! — exclama a dahllan.

Um pouco afastado da costa, um grande animal marinho projeta seu corpanzil para fora d’água. Brilhos azulados em forma de setas cobrem o dorso do animal gigantesco. Prunna ria de felicidade.

— O que é aquilo? — apontava na direção de onde a criatura colossal voltava para dentro do mar.

— Aquilo é uma Baleia Lumiar. É engraçado, pois não chamei ela, apenas os krill.

- Deve ser porque seus servos te amam — o sorriso da jovem desapareceu quando percebeu a expressão severa no rosto de Benthos.

— Eles me temem. É diferente — a jovem se aproxima e toca no ombro do dragão-rei.

— Não é verd…

— Eu sou um monstro, dríade! — interrompeu afastando-a, a voz grave e doce agora misturava-se a um gutural selvagem. Com os olhos inflamados de ira, os animais luminosos sumiram, o mar revoltava-se e um trovão rasgou o céu noturno. — Você sabe disso! Todos sabem! Não há nada para um dragão-rei além tesouros e servos temerosos!

— Não é verdade! — o grito, abafado pelos estrondos, atraiu novamente o olhar brilhante de Benthos. — Quando você apareceu, não vou negar, tive medo! Mas não de você, por você!

— Besteira — cuspiu desviando do olhar suplicante da jovem enquanto os ruídos iam diminuindo.

— Tive medo que Uriel te rasgasse com a morte estelar, mas não tive medo de ficar sozinha em um labirinto multidimensional em sua companhia — as águas lentamente voltavam a calmaria — E você queria minha companhia.

Voltando sua atenção à jovem, tão rápido quanto sua fúria surgiu, ela parecia ter desaparecido. Benthos agora admirava o semblante de Prunna, adornado pela coroa que dera à ela mais cedo naquele dia.

— Não é comum gostarem de quem sou, apenas do que sou — comentou com tristeza, agora afagando os cabelos da jovem.

— Todos temos monstros vivendo dentro de nós, mas cabe somente a nós escolhermos sê-los ou não — aproximando-se mais, envolveu seus braços no torso do dragão-rei.

— Tão bela, tão jovem, tão sábia — o sorriso afiado voltando ao seu rosto.

O mar estava em silêncio. Observando-os.

— E o que vais escolher?

— Pelo menos por hoje, você.

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Written by Diogo Stone

Diogo é programadore, escritore, game designer e hater de impressoras. Uma pessoa entusiasmada que escreve contos de fantasia aqui e regras de RPG na Naiá Jogos

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