(Des)crença

Diogo Stone
3 min readOct 25, 2020

Se aproximou da construção devagar, não tinha pressa para chegar onde não queria ir. Se dirigir até aquele local, certamente o faria torcer o nariz, se pudesse. Olhou acima do arco do templo e viu o símbolo sagrado de Wynna “Deusa da Magia”, como a chamavam. Absurdo.

Por que esses extraplanares gostavam tanto de serem idolatrados? Costumava pensar, mas refletindo sobre isso, muita gente gostaria de ter uma horda de fanáticos que dedicam suas vidas a te adorar como algo sobrenatural, divino. Deu de ombros e teria estalado a língua, se pudesse.

Adentrou o salão principal onde alguns devotos estavam salpicados pelo local. Rezando, conversando e fazendo ilusões enquanto contavam histórias. Parecia mais uma taverna do que uma igreja, o que era bom — detestava os locais de oração de forma geral. Aproximou-se do que parecia ser um altar onde repousava apenas uma pequena estatueta de uma mulher. Balançou a cabeça e deu dois passos em direção da porta, era idiotice tentar algo sem ter uma crença genuína. Contudo, impediu-se de desistir e deixou a razão de lado para arriscar. Sentou-se em um dos vários bancos e teria respirado fundo, se pudesse.

— Wynna — começou baixinho, esperando que não o ouvissem falando sozinho como um imbecil — , dizem que você é a deusa da magia. Vou ser sincero, não acredito que tal coisa como deuses existam. Entretanto, eu acredito no poder e sei que existem seres que extrapolam meus conhecimentos.

Olhou nos arredores, continuava só.

— Dizem que você pode conferir poderes mágicos a qualquer um, mas, bem, eu já aprendi os mistérios arcanos ao voltar dos mortos. Porém, só com esses poderes, não posso curar e desafiar a morte como fazem os Clérigos. Não consigo trazer meus filhos de volta só com o conhecimento que tenho, não por completo. Sei trazer apenas seus corpos, mas talvez juntando isso com seus poderes… enfim, o que eu precisava de você era uma pequena ajuda — parou um tempo pra escolher palavras que não ofendesse o vazio para o qual se dirigia. — Precisava usar o que chamavam de magia divina, uma piada, claro. É apenas um tipo de magia que precisa de um contrato com um extraplanar poderoso.

Sentia-se um tolo. Ouvia os burburinhos do local enquanto as pessoas conversavam animadamente. Não podia ser um local sério e já não entendia bem por que estava se submetendo a isso.

— Você pede que os fanáticos que te seguem ensinem magia e usem-na para proteger. Pede que pratiquem a bondade e não matem seres mágicos. Bem, eu nunca fiz nada disso, eu sou um médico afinal de contas. Meu interesse é salvar vidas.

Eu sou um médico. A frase ressoou no seu crânio vazio, trazendo-o de volta a realidade.

— Quanta bobagem — resmungou enquanto se levantava, dirigindo-se a saída com passos largos.

Antes que colocasse os pés para fora, fora abordado por uma acólita; uma elfa com belas feições que o lembrava de alguém que jamais esqueceria.

— Senhor, perdoe-me, mas vai precisar disso.

A mulher estendia um broche para ele. Um anel metálico com uma espécie de pino para prendê-lo a roupa. A marca sagrada de Wynna.

— Não tem necessidade. Não creio nessas… coisas, e nem sei por que me dei ao trabalho de vir aqui.

A elfa franziu o cenho e seus olhos se ascenderam em um azul celeste, inspecionando auras mágicas no local. Ela abriu um sorriso e se aproximou, prendendo o broche na lapela do Osteon. Quando terminou de ajeitar, o anel brilhava em dourado.

— Se não é um devoto, por que o símbolo de nossa graciosa deusa o reconhece como um?

De repente, Gaster sentia um poder mágico diferente percorrer seus ossos — e não era arcano, tinha certeza. O calor era quase febril e podia senti-lo, o que por si só, já era estranho o bastante. Palavras mágicas cruzaram sua mente como se fosse um milagre, apesar de não existirem, obviamente. Contudo, agora sabia como curar os enfermos e estancar sangramentos usando magia, mas por alguma razão esqueceu como invocar uma escuridão sobrenatural.

— Ah, então esse é o preço? — disse em voz alta sem perceber.

A acólita estranhou, mas o médico se desculpou pela fala desorientada e se retirou do local, voltando para a taverna da gnoma.

Estaria sorrindo, se pudesse.

******************************************

MAGICKA

— Ei, Wynna, por que você abençoou o ossudo? Ele nem gosta de você! — uma elfa perguntava deitada em um luxuoso sofá enquanto assistia aos acontecimentos de Arton numa espécie de vidro gigante.

— Por que vai ser engraçado, hora bolas!

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

Diogo Stone
Diogo Stone

Written by Diogo Stone

Diogo é programadore, escritore, game designer e hater de impressoras. Uma pessoa entusiasmada que escreve contos de fantasia aqui e regras de RPG na Naiá Jogos

No responses yet

Write a response