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Diogo Stone
5 min readJan 14, 2021

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O tilintar constante que vinha da oficina ficava mais alto a cada passo. O homem abriu a porta e o cheiro acre invadiu suas narinas, nauseando-o. Estava quente e as janelas estavam fechadas. O rapaz esguio e de traços finos trabalhava em alguma espécie de autômato com duas rodas, mas só ele sabia como aquela engenhoca funcionaria. Ele serrava uma peça de metal com um catalisador arcano e várias fagulhas voavam para longe. O barulho horrível de aço sendo arranhado aumentava sempre que aproximava a ferramenta do ferro frio.

— Kadaj! — bradou com a voz poderosa como um trovão, sobrepondo o som estridente.

— Paz, meu amor!

Aproximou-se de seu amado e lhe beijou. Sorriu quando o viu corar um pouco.

— Recebemos isto — disse mostrando uma carta — , veio lá de Tamu-Ra.

Kadaj toma a carta de sobressalto, abre e passa os olhos rapidamente sobre as palavras escritas. Arregala os olhos em dado momento e depois abre um grande sorriso. Por fim, devolve o pergaminho para Paz.

— São notícias da Sedrywen!

— Você já leu? Tudo? — indignado indicava a extensa carta em suas mãos.

— Cavaleiros do corvo precisam ler rápido e decorar tudo. Nunca se sabe quando teremos pouco tempo para coletar alguma informação — disse dando de ombros.

Paz se ajeitou sentando contra a bancada e começou a ler enquanto seu amado voltava a trabalhar em algo menos barulhento.

Kadaj e Paz, queridos, desculpem demorar tanto para escrever novamente.

O último ano fora complicado além da nossa compreensão. Na última carta que escrevi, falei para vocês que iríamos iniciar nossas incursões em Threbuck. Nós a fizemos, mas foram falhas. Enfrentamos abominações e derrotamos seres além de nossas compreensões. Descobrimos que o líder, ou como chamam lá, o lorde, é uma entidade que se autoproclama Gatzvalith.

A primeira vez que o encontramos, quase fomos mortos e tivemos que fugir. Desconhecíamos seus poderes e a sua capacidade de fascinar e moldar a realidade e o tempo. Eu também não esperava que Zanshin fosse acertado por um raio que desintegraria qualquer pessoa normal, não quando já estávamos à quase um quilometro de distância.

Entretanto, em duas outras vezes, nós conseguimos triunfar sobre ele, mas não encontramos a fonte da aberração lefeu. Não achávamos o que traz a tormenta até Arton. Foi por isso que partimos até Nivénciuen — o antigo plano de Glórienn, minha mãe — agora governado por Igashera, um desses lordes da tormenta. Precisávamos de respostas.

O homem ergueu os olhos da carta. Eram muitas informações e tinha certeza que algumas delas seriam de grande valia para o Reinado e até mesmo para Arton, mas estavam ali em suas mãos.

— Essas informações podem ser úteis para todos, por que nós?

— Amizade — Kadaj falava sem olhar para Paz — , ela preza pela nossa amizade. Poucas pessoas sabem que ela é filha de Glórienn, menos ainda acreditam.

— Eu jamais duvidaria.

— E é por isso que ela confia em nós também .

Kadaj aperta a bochecha de Paz, deixando uma mancha escura em seu rosto. O homenzarrão empurra seu braço gentilmente para longe enquanto ri.

— Continue a ler, melhora.

Inutilmente esfregando o rosto com a roupa para limpar a face, o homem retoma a leitura da carta.

Foi lá que — pasme — encontrei meu finado marido, Cuthalion. Lembram dele, não é? Ele continua lutando lá no pós-vida, protegendo as pessoas da tormenta da maneira que pode. Parece que ele nasceu para lutar, assim como você, Kadaj, nasceu para inventar e Paz para proteger.

Com ajuda dos nativos, descobrimos que as áreas de tormenta, como as chamam, possuem um desses lordes que as governam. É estranho pensar que isso tenha individualidade a ponto de ter uma hierarquia. Mas além disso, elas possuem o que chamam de coração. Uma coisa, um lugar, alguém, um momento. Não conseguimos concluir exatamente o que é um coração — pois tudo é lefeu — mas sabemos que existe algo que catalisa a anticriação para Arton. Rezam as lendas que em Tamu-Ra, o coração era um lugar, mas ninguém sabe ao certo informações sobre.

Em Nivénciuen, parece que Igashera tem doze colossos. São lefeu singulares, o que já é estranho. Acabamos enfrentando um deles para salvar a vila onde Cuthalion vive com outros sobreviventes. Precisamos buscar ajuda de Mu e Prunna, mas derrotamos o que chamavam de Ziumak. Essa criatura era na verdade uma espécie de espada que havia tomado a mente de Zenon das Cinco Lâminas, o ex-paladino de Glórienn mais fanático que já existiu, o líder das Espadas de Glórienn. Mas nós o derrotamos e destruímos Ziumak. Não sabemos o impacto que isso causou lá.

— Quantos detalhes — Paz comentou em voz alta.

— Ah, sim. A Sedrywen sabe que eu vivo estudando a tormenta. Entender o seu inimigo é o melhor jeito de derrotá-lo.

O olhar de Kadaj trabalhando era distante, perdido em uma memória. Paz se afastou da bancada e abraçou seu parceiro. Não era preciso palavras, ele sabia o que o outro sentia.

— Ziumak dominar Zenon e tranformá-lo em outra pessoa… foi praticamente a mesma coisa com Uriel — era Kadaj.

— Não diga mais nada, não faça isso com você. O Uriel que você amou tinha um coração que ardia por justiça, não por vingança. Aquele Uriel se foi a muito tempo.

Virando-se dentro do abraço, o homem de traços finos encara o que o abraçava e sorri.

— Está tudo bem, não se preocupe. Termine a carta, você não chegou na melhor parte ainda.

Soltando Kadaj, Paz retorna para onde estava e retoma sua leitura.

E pior que o mais estranho de tudo não foi a tormenta, Ziumak, Nivénciuen ou as piadas de Mu. O que mais nos surpreendeu foi descobrir que eu estava grávida. Linriénn nasceu a alguns dias e mal posso esperar para que conheça seus tios de Khubar. Eu e Zanshin vivemos risco constantemente lutando contra a tormenta, e só confiamos em vocês dois para cuidar da criança se algo acontecer conosco. Vocês aceitariam, certo?

Um forte abraço e um doce beijo, Sedrywen.

Kadaj olhava o outro com um sorriso idiota no rosto. Paz, de cenho franzido, afastava o olhar da carta e o encarava de volta. Uma concordância silenciosa para o pedido da amiga.

— Que demais!

— Não é!

Um pigarro alto soou vindo da direção da porta, interrompendo a euforia do casal e chamando a atenção.

— Desculpem se interrompo algo, mas Enki insistiu que gostaria de ficar alguns dias com vocês.

— Você não precisava me trazer, pai. Você veio porque estava com saudade dos seus amigos.

— Benthos! Enki! Sintam-se em casa — Kadaj abria os braços, recebendo um Enki que corria para abraçá-lo — Vem cá rapaz, deixa eu te mostrar o projeto que estou trabalhando aqui. Depois tem uma carta da tia Sedrywen pra você ver e ela fala do Mu!

Os dois se afastam conversando oficina a dentro. Deixando Paz e Benthos na porta. O sorriso do dragão-rei se esvai conforme seu filho se afasta.

— Problemas? — era Paz.

— Não, dessa vez não. Acho que só estou percebendo que ele está crescendo. Nem apressado para partir estou dessa vez

O homem riu.

— Então venha. Deixe os espertalhões com seus cacarecos e vamos dividir uma bebida. Por minha conta — brincou.

O dragão-rei sorriu. De fato, sentia falta de seus amigos.

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Written by Diogo Stone

Diogo é programadore, escritore, game designer e hater de impressoras. Uma pessoa entusiasmada que escreve contos de fantasia aqui e regras de RPG na Naiá Jogos

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