Nova Temporada
— Ah, qual é? O sucesso subiu à cabeça? — o homem de pele escura estava indignado.
— Você sabe que não — a elfa respondeu. — Não seja ríspido à toa, Mu. Você sabe que está sendo grosseiro só para nos atingir. E você sabe que não vai funcionar.
— Nós entendemos que aconteceram muitas coisas — o tamuraniano começou — e que vivemos muitas aventuras juntos. E nunca vamos esquecer do evento que nos reuniu, quando salvamos a Prunna da anticriação. Mas, ter visualizado em um sonho, uma dimensão paralela que controla tudo que fazemos… você não está exagerando um pouco?
Mu se atirou de costas no chão, reclamando. Era difícil quando seus amigos eram mais cabeça dura que ele próprio.
— Gente, eu tô dizendo que é verdade!
— Zanshin — Sedrywen falou baixo, apesar de todos na sala conseguirem ouvi-la perfeitamente. — E se Mu tiver razão? Digo, a mãe dele é… a Moira, né? Ela via coisas que nós não somos capazes de entender.
— Bem, sim, mas, não podemos sair daqui agora. Ainda mais sem saber para onde ir.
Sedrywen pressionou os lábios. Zanshin sabia o que viria a seguir.
— Eu acho que eu vou com o Mu.
O homem deitado se levantou com um sobressalto.
— É isso aí! Mu e Sedrywen de volta à ativa! Sabres élficos e magias tcho-tcho! Se nem os lefeu nos impediram não serão esses três detetives e um tijolo que irão nos impedir!
— Como é que é?! — os dois perguntaram em uníssono.
— Nada, não. Relaxa, eu explico melhor depois. Vamos lá, temos que falar com a Prunna.
Antes que a elfa ou o tamuraniano pudessem se despedir, o homem estalou os dedos e, numa rajada de vento, desapareceram. Zanshin, agora sozinho, suspirou fundo.
— Qual foi meu chapa, tá triste agora, é?
— Você sabe que não, Kuraiga.
— Quer ir? Por que cê tá aqui ainda?
— Eu tenho deveres e - -
— Chaaaaatooooo — o demônio o interrompeu. — Da próxima vez pensa melhor. Eu tô de saco cheio de burocracia. Quero meter a porrada em alguém.
— Fala aí Prunna!
Mu e Sedrywen surgiram junto de uma rajada de vento ao lado de uma cabana em Khubar. A casa de praia onde a dahllan e o rei dos dragões marinhos tiravam uma folga.
— Eu fico indignado que minha melhor amiga fica de baixo da água, sabe? Eu nem tenho como me teletransportar pra onde ela fica, isso é um absurdo. Talvez eu devesse gastar uns pontos numa vantagem nova.
— Numa vantagem? — a elfa estava confusa. Tanto pela viagem quanto pelas palavras do amigo.
— Puts, eu tenho muita coisa pra explicar pra vocês.
— Tio? — uma voz jovem chamou a atenção da dupla.
— Enki?
— Tio!
— Enki!
Os dois correram ao encontro um do outro. Então, o khallyanach meio-dahllan deu um soco em Mu quando eles se aproximaram.
— Caraca, moleque… tá aprendendo mesmo!
Os dois se abraçaram, deixando Sedrywen um pouco mais confusa.
— Aí cadê tua mãe.
— E eu lá sou a mãe da minha mãe pra saber?
— Por Glórienn, Enki.
— Tia! Desculpa — o rapaz se aproximou e abraçou a elfa. — Não se assuste. Esse vigarista aparece aqui só pra trazer problema, nunca é só pra dar oi.
— Ah, é? Ms dessa vez eu trouxe presentes!
— Jura?
— Sim. É uma aventura pra lidar com um problema extra-dimensional onde uns tais de jogadores ficam tentando controlar tudo que a gente faz. E pior! Parece que já fizeram isso antes e algumas pessoas estão pedindo pra fazerem de novo!
— Isso é um presente? — a elfa questionou cruzando os braços.
— Uma aventura sempre é um presente.
Enki andou de um lado para o outro, de cenho franzido e apertando os lábios. Ele parecia tentar encaixar algumas peças em sua cabeça.
— Meus pais foram pra Schkarshantallas. Alguma coisa envolvendo a sumo-sacerdotisa de Arsenal e uma guerra por vir, sei lá. Pro meu tiorano pedir uma audiência com o papai, deve ser algo sério. Então isso significa que eles vão demorar.
Todos ficaram em silêncio um tempo. Sedrywen sabia que, se as suspeitas de Mu fossem verdade, os dois sozinhos não conseguiriam dar conta do trabalho. Pensou que poderiam recorrer a Zanshin outra vez, mas seu amado tinha os assuntos de sua terra para tratar. Ela mesma não tinha certeza de qual o motivo tinha a levado até ali.
Talvez estivesse cansada da burocracia, talvez estivesse feliz em rever seus amigos. Ou, talvez, fosse hora de novas aventuras mesmo.
— Cadê a malemolência, cara? — Mu quebrou o silêncio. — Oh moleque, o presente não é só pra tua mãe não. Tá afim de viver umas aventuras?
— Caramba, eu achei que você não iria convidar! — o rapaz mostrou a bolsa que carregava, pronta para viagem. — Eu espero por esse dia desde que me tornei o primeiro devoto de Mu.
O sorriso na cara do homem quase mão cabia no rosto. Se hoje tinha poderes divinos, o que vinham bem a calhar, apesar de não gostar do título, era culpa de seu sobrinho. Deus da Perseverança para a maioria — da teimosia para os íntimos.
— A Prunna não iria gostar disso — era Sedrywen, alguém tinha que usar a cabeça entre os três.
— Quando ela descobrir a gente já vai tá pra lá de três dias e tanto de viagem.
Os três começaram a caminhar, mais para pensar nos próximos passos do que para ir a algum lugar de fato. Afinal de contas, Mu poderia transportá-los pelo ar.
— Mas tio… você ainda não disse como vamos atrás desse problema.
— Relaxa, primeiro a gente faz tua ficha Sugoi. Não sei se uns vinte pontos basta. Mas, depois disso, a gente pensa nos próximos passos.
Sedrywen revirou os olhos. Ele estava começando a falar igual a Moira.
E talvez isso fosse o primeiro problema.