O Dragão e a Bela

Diogo Stone
4 min readMay 13, 2021

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A lua brilhava forte e o som do mar enchia os ouvidos. O vai e vem das ondas, em sua interminável dança, reluzia com uma beleza estonteante. Cambaleando pelas areias, e com um sorriso bobo no rosto, Prunna era guiada por Benthos que tapava seus olhos enquanto seguiam para um local isolado daquela praia.

— Chegamos — o dragão-rei comentou permitindo que ela visse onde estavam.

A arquibarda sondou os arredores com o cenho franzido e um olhar curioso. Estavam numa praia deserta, não havia nada demais ali. O deus dos dragões marinhos riu de sua expressão.

— Meu amor, o que estamos fazendo numa praia deserta? — A pergunta era sincera, mas ela sabia muito bem o que ela queria fazer.

— Não é uma praia deserta qualquer, minha rainha — comentou com uma mesura desajeitada e aguardou um sorriso surgir nos lábios de sua amada. — Essa é a praia onde tudo começou, onde nos conhecemos melhor, assim digamos.

O sorriso da dahllan foi se expandindo até exibir todos os dentes e soltar uma gargalhada gostosa, de encher os ouvidos. Nem todas as ideias dele eram ruins, afinal. Estranhou quando ele a convidou para sair do castelo. Ficaram tanto tempo fora que não achou que ele fosse ter tempo para muitas coisas.

O som das ondas era acalentador. Prunna havia aprendido a apreciar a música que o mar cantava e, por vezes, era inspiração para ela. Abraçou Benthos, que devolveu o gesto com ternura. Ela não havia percebido o quanto esteve tensa todo esse tempo. Depois de derrotarem Lamashtu — duas vezes — o grupo dos Joiers, como ficaram conhecidos graças ao Mu, acabou se separando.

Ela e Benthos se retiraram para o reino do dragão-rei. Havia muito caos para se domar e um bebê dragão que crescia exponencialmente rápido para ser domado. Sedrywen, Zanshin e Kuraiga ficaram em Tamu-Ra. O amigo de lá assumiu as terras da família Himekawa e a amiga élfica finalmente havia reencontrado seu lar. Lenórienn sempre esteve dentro dela.

Mu e Soma, irmão de Zanshin, pegaram o pequeno Primus e sumiram. Ela tinha certeza de que eles estavam arriscando a própria vida, só não sabia onde. Contudo, o risco maior que a dupla corria era retornar tendo acontecido qualquer problema ao pequeno. Apertou o dragão-rei com força ao se lembrar de Enki — o que veio do futuro, no caso. Tekametsu havia dado a ele asilo em Sora e ele não corria mais mais risco de ser perseguido pelos probos de Khalmyr. Ele havia triunfado, orgulhado Valkaria, morrido e retornado pelo menos duas vezes e, se isso tudo não bastasse, salvado a realidade em que viviam.

A dahllan se afastou de Benthos apenas o suficiente para conseguir encará-lo e o beijou longa e profundamente. Estava feliz, estava tranquila.

— Por que estamos aqui?

O dragão tomou suas mãos e se afastou um pouco, gesticulando e a convidando para dançar. Ela, ainda sorrindo, aceitou e os dois começaram uma espécie de valsa. Os passos eram lentos e firmes. Não demorou para que os ouvidos treinados dela notassem que dançavam no ritmo do oceano e, a cada passo, adentravam mais no mar.

— Eu venho a este lugar com frequência quando você não está — seus corpos começaram a ser envolvidos pela água salgada, mas ela não impedia seus movimentos. — Pode parecer igual qualquer outra praia para a maioria, mas um dragão conhece cada canto de seus domínios e esse aqui é o mais especial deles.

Prunna nunca se envergonhava. Era habituada a fazer muitas coisas, sem se importar muito com quem observava. Mas ali, sentindo o calor do corpo do dragão enquanto dançavam e ele falava, pôde sentir seu rosto enrubescer.

— Eu passei tempo demais agindo como só mais um dragão. Acumulando poder, protegendo meus domínios; sendo um animal. Mas aí… — a dança não parava. A água chegava na cintura do casal. — Aí eu conheci você. Que me aceitou mesmo vendo o monstro que vive em mim, mesmo sabendo o temperamento que tenho, mesmo sendo quem eu sou. E se isso não bastasse, a cada ideia estúpida que eu tinha, você era enfática em apontá-las. O que só fez a minha admiração sobre você aumentar.

O som do oceano, de repente, parecia que havia sumido. A dahllan podia sentir seu coração surrando seu peito e suas orelhas ficaram quentes. Tantas noites de diversão, tantas companhias que precederam essa, tantas decepções que viveu. O caos que sua vida fora no último ano nublou sua percepção e ela demorou para perceber sobre o que ele falava. Como ele falava.

— Você me deu uma razão para viver, antes eu só… existia. É até estranho de pensar que eu defendi Tamu-Ra por você, com você. Logo eu? — o dragão-rei olhou para o céu noturno, interrompendo a dança, respirando fundo e voltando a encarar Prunna nos olhos. — Você está… corada? — Ele estava genuinamente surpreso.

A barda arregalou os olhos, desviou o olhar por uns segundos e voltou a encará-lo. O peito ainda subia e descia com uma frequência incomum. Em resposta, ela apenas se aproximou dele e o beijou enquanto se entrelaçavam em um abraço apertado. Um brilho azulado emanou de suas mãos que reviravam o cabelo de Benthos e uma massa de água os deslocou até a praia suavemente.

Os dois se separaram e ela deu dois passos para trás.

— Obrigado por… me fazer sentir de novo o que eu já não acreditava mais. Obrigado por me deixar se apaixonar por ti. Por mostrar que eu poderia amar e ser amada de verdade.

— Eu te amo Prunna, rainha dos mares.

— Eu também te amo Benthos, rei dos mares.

O sorriso da dahllan foi, aos poucos, tornando-se mais malicioso. Ela respirou fundo e quatro copias idênticas a ela surgiram. O sorriso do dragão-rei também se tornou malicioso. As copias abraçavam o dragão rei, acariciando-o enquanto a Prunna “original” dizia:

— Eu sempre quis testar isso desse jeito.

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Written by Diogo Stone

Diogo é programadore, escritore, game designer e hater de impressoras. Uma pessoa entusiasmada que escreve contos de fantasia aqui e regras de RPG na Naiá Jogos

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