Pisca
Pisca.
Em meio aos destroços de uma sala de laboratório, a luz intermitente no painel continua a prender a atenção da moça que ali se esconde. À muito o alarme já havia parado de soar, mas os gritos de seus colegas ainda podiam ser ouvidos em intervalos cada vez menores. Os urros das criaturas também diminuíam — mas cada vez que o ouvia, tinha vontade de gritar.
Pisca.
Seria uma decisão tola. Fútil. Poderia gritar, chorar, suplicar ou correr. Mas tudo isso seria em vão. Não conseguiria nada além de uma morte brutal e dolorosa. Como puderam ser enganados? As atividades cerebrais daquelas bestas eram caóticas, perturbadas e inconsistentes — não seguiam nenhum padrão conhecido. Talvez esse tenha sido seu erro.
Acreditaram que compreendiam a maneira como seus cérebros funcionavam, mas as mentes alienígenas das criaturas se mostraram superiores. Decoraram rotinas de testes e nomes e rostos. Sabiam mais sobre os cientistas do que jamais descobririam sobre os invasores. O caos era a ordem deles.
Pisca.
Sua atenção foi chamada para o painel e, novamente, seu estômago se embrulhou. De bruços sobre o painel coberto de botões, luzes apagadas e sangue; o corpo de seu companheiro de laboratório permanecia jogado. Um terrível ferimento em suas costas exalava um cheiro ocre de carne queimada por ácido — e o cérebro que um dia o pertenceu espalhava-se pelo vidro a sua frente.
Por que me pouparam? A pergunta investia contra sua mente a todo o momento. Talvez tivesse tido sorte e a carnificina havia saciado as coisas. Afinal, ela desconhecia seus motivos, mas eles pareciam saber exatamente o que procuravam. Os passos lentos e pesados seguidos do som arrastado de uma grade cauda foram ficando mais altos. Seu coração foi parar na boca quando avistou pela segunda vez a criatura andando livremente.
Pisca.
Tentou segurar as lágrimas e não emitir som algum. Mas já era tarde demais. Ela sabia que a criatura havia voltado para concluir o serviço. Queria apenas uma chance de dizer adeus às pessoas que ama e pegar sua filha no colo uma última vez. A criatura insectoide e avermelhada emitiu um som excruciante — o mesmo que a mulher ouviu durante as últimas horas de horror que viveu ali, escondida embaixo daquela mesa.
Agarrou-se a última ponta de sanidade que tinha e fechou os olhos, enterrando seu rosto em suas mãos sob um grito de horror desesperado. Então, a criatura atacou.
Pisca.
Sangue.
Silêncio.