Temperança

Diogo Stone
3 min readDec 24, 2020

A luz cálida de Tenebra inundava Valkaria. Logo, Azgher viria para afugentá-la, mas a dama da noite se vingaria em breve. Uma disputa incessante, uma dança entre os deuses. Alheios a isso, em seu quarto, o homem santo começava a esconder sua nudez colocando suas roupas de volta. Parou por um momento, esfregando uma marca avermelhada que um chicote deixara em seu abdômen mais cedo e sorriu. Distraído em seus pensamentos, não notou a aproximação dela por suas costas, que o agarrou e tocou seu pescoço com os lábios. Um beijo suave e carinhoso.

— O que você está fazendo, Theikos — sua voz era sonolenta. — Venha se deitar, faz dias que você não coloca os pés em Valkaria. Vamos aproveitar mais um pouco…

Havia malícia naquelas palavras. O homem respirou fundo, tomou a mão de sua amada que o abraçava e a beijou. Sem se virar para encará-la, falou:

— Não posso.

A dahlan afrouxou o abraço e se afastou meio passo, jogou os cabelos castanhos para trás e escolheu bem as palavras que diria. Ainda não era muito boa com elas.

— É algo relacionado a sua fé, não é?

Theikos suspirou e se virou. Encarou-a nos olhos como sempre fizera e, naquele momento, sustentar aquele olhar era uma vitória. Pois se sua visão escorregasse, o corpo desnudo dela poderia fazê-lo fraquejar.

— Não exatamente, Thaly. A senhora da ambição não mede meus desejos. Muito pelo contrário, ela me desafia a querer cada vez mais.

A clériga o soltou e se sentou na cama. Gostava de ouvir a voz dele e a forma como falava. Contudo, não era exatamente o que ela queria que ele fizesse com a boca naquele momento.

— Então o que seria? — disse tentando esconder a impaciência que começava a aflorar.

— Não tive uma ordem santa, nem instrutores. O código que sigo define quem sou, e tive que descobri-lo sozinho. Os acólitos chamam algumas de minhas decisões de virtudes e elas são o que separam clérigos — dizia apontando para ela — de paladinos — concluiu voltando a ponta do dedo para si.

Thalyandra balançava a cabeça em concordância. Podia sentir o coração e a vontade de agarrá-lo martelando o peito. Theikos não era a pessoa mais sagaz que conhecia e, naquele momento, não sabia se queria bater nele ou… bater nele de outra forma.

— E o que isso tem haver com… isso? — gesticulava para o homem que discursava nu com as roupas nas mãos.

— Ah, claro. Uma de minhas decisões foi a de saber equilibrar meus desejos, sabe? Ser comedido e evitar exageros. Ser temperante pode me privar de… coisas. Mas é isso que me inspira a seguir em frente, que me dá forças e que serve de suporte para eu me segurar quando os desafios tentam me abalar.

Os dois ficaram se olhando por um tempo, em silêncio. Dando de ombros, ele continuou a se vestir. Ela suspirou e se atirou na cama mais uma vez, espreguiçando-se. Havia decidido amar o paladino e iria respeitar seus modos como ele respeitava os dela. Sentou-se na cama e começou a colocar suas roupas também.

— Está cedo Thaly, você poderia descansar mais.

Sem demora a mulher já estava de pé e vestida, caçando as partes de sua armadura pelo quarto. Agarrou uma das proteções para os antebraços e começou a prendê-la.

— Poderia — disse entre os dentes que usava para segurar uma das tiras de couro de sua braçadeira — , mas eu preciso ir até o pátio de treinamento e bater em você. Agora.

Theikos sorriu.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

Diogo Stone
Diogo Stone

Written by Diogo Stone

Diogo é programadore, escritore, game designer e hater de impressoras. Uma pessoa entusiasmada que escreve contos de fantasia aqui e regras de RPG na Naiá Jogos

No responses yet

Write a response