Tenebris
Irmãos, irmãs, irmanes; vivos e desmortos. Unimo-nos sob o manto de Tenebra para celebrar a união e a vida.
Sim, a vida.
Pois o que seria a segunda chance da dama da noite se não uma sobrevida? Uma bênção do luar para podermos admirar a vastidão do que é ser; do que é existir; do que é viver. A vida eterna sob o olhar da bondosa escuridão, jamais será vista como algo ruim, jamais será rejeitada. Os gracejos da deusa, são o toque do divino presente no nosso dia-a-dia. Cada centímetro do corpo que ocultamos, é um segredo a mais que toca os olhos daqueles que encontramos; é uma afronta a mais que fazemos contra a luz que tudo permeia.
Isso mesmo, a luz que revela mistérios e atrapalha o oculto deve ser negada. Pois o que seria dos amantes sem a troca de olhares misteriosos? O que seria das amizades sem os segredos que guardamos? O que seria dos povos se soubéssemos o segredo da morte? Muitos pregam que a necromancia pretende desvendar tudo sobre a vida e a não-vida, mas isso é uma grande falácia.
As práticas sombrias jamais deverão ser usadas para desvendar os mistérios dos mortos-vivos ou profanar seu uso para controlar os desmortos, não. Nós, necromantes, não buscamos a compreensão da morte, mas sim, sua harmonia. Aquele que prega contrário a união dos que vivem e dos que caminham abraçados a morte, é um inimigo de Tenebra. E a nossos inimigos, nós desejamos que tenham a dignidade de manter o diálogo antes da ponta da espada. Contudo, não mediremos esforços para revidar. A pena é mais forte que espada, os poetas dizem; mas eles desconhecem o peso do aço em sua maioria.
Desconhecem o fio de uma lâmina invisível na noite, desconhecem o peso da maça nas mãos de um soldado, desconhecem o impacto da ponta de uma flecha. Quando lidamos diariamente com a morte, sabemos que a pena, muitas vezes, dá lugar ao aço; e é nosso trabalho saber manejá-lo.
Caminhemos juntos ocultos pela sombra de Tenebra, que seja feita a vontade da deusa dos segredos e que seu manto nos cubra de bênçãos nesta noite de luta. Não temamos a morte, pois ela é nossa amiga; e protegei os menos afortunados do sofrimento.
Tenebris.